domingo, 13 de novembro de 2011

Amor


Gostaria de entender por que um ser racional alimenta tanto uma dor, um sentimento auto-destrutivo, consciente dos possíveis resultados não desejados. Talvez não sejamos tão racionais assim. Nós o nomeamos, estudamos, catalogamos, exploramos, escrevemos livros sobre ele, no entanto somos reféns de todos os seus males.
Gostaria de entender como um sentimento, logicamente abstrato,como esse, assim sem forma, sem limites físicos, fere tanto a alma e ainda descontente com os estragos deixados, chega a machucar no corpo,ferir a carne. Às vezes posso jurar que o amor me belisca, e que quanto mais meu corpo se adapta a isso, mais ele dilacera, martela, agride de todas as formas imagináveis. Quer testar meus limites. Todos eles. Não seria o amor, um objeto de tortura?
Provavelmente seja psicológico.. mas quando sofro de amor, meus sistema imunológico parece desmoronar como um castelo de areia.. na mesma rapidez dos meus planos desfeitos. Dói cada pedacinho do meu corpo timidamente encolhido no menor espaço possível da cama. Dói não poder sumir, ou fazer alguém aparecer. Dói não saber o quanto se pode suportar, e estar a cada machucado mais perto do abismo. Dói respirar. Dói até pensar..
Como pode doer pensar? Só o amor mesmo tem essas coisas inexplicáveis, e essas dores silenciosas, que machucam sem deixar hematomas, e matam sem de fato matar.


Tanny Pontes

Pessoas



Não é questão simplesmente de não saber escolher. O fato é que realmente eu devo ter o dedo podre pra isso. Não funciona. Vou direto às que vem com defeito de fábrica. Parece que elas me chamam, prendem a atenção, como uma propaganda enganosa que enche os olhos do espectador, pra logo em seguida frustrar todas as expectativas sem o mínimo pudor.
Quanto maior a minha certeza de que fiz a escolha certa, maior é a decepção. É totalmente proporcional, e acontece vezes e mais vezes seguidas.
Cansei de escolher.
Vou apenas deixar que me escolham. Ou não.
E aceitar minha condição de solidão.

Tanny Pontes

Desisto.


Desisto de tentar lutar contra o tempo.
Ele sempre leva de mim partes importantes. Esse cabo de guerra entre a gente tem me tomado todas as poucas forças. E pelo caminho ficaram muito mais do que amigos, rotinas, manias, sabores, perfumes, certezas e sonhos.
Travei inúmeras batalhas com ele, que tentava bagunçar tudo, e eu atrás, batendo o pé, brigando, tentando inutilmente colocar esse tudo no seu devido lugar. Sem falar das guerras,quando o tempo me levou pessoas. Pra mim isso é golpe baixo.. coisa de quem não sabe lutar de igual pra igual. Ah tempo, se você fosse um ser humano, um de nós já teria morrido nocauteado, e sabe, pra mim tanto faz eu ou você. A morte é nada mais do que uma libertação necessária. As derrotas das guerras foram grandes, e as recuperações me foram desgastantes em um processo lento.
Levou de mim os encontros familiares dos domingos, a fé em Deus, a inocência. Levou de mim a tranqüilidade, a confiança nas pessoas, a doçura plena.
Então, após tantas perdas, eu desisto. Mas não por raiva, e sim por gratidão. Quero fazer as pazes com o tempo, pra ficar de bem comigo. Chega de batalhas, guerras e corpos. Bandeira branca.
Pode vir, tempo. Leve de mim o que você achar que deve, como sempre fez tão bem. E me desculpa, tempo, por demorar tanto tempo pra perceber que você me fez mais forte, independente, segura e séria. Desculpa tempo, por eu ter perdido tanto tempo te tratando como inimigo, e achando que tinhas um problema pessoal comigo, quando na verdade, você existe para todos.
Você ainda vai me tirar muitas coisas e pessoas.
E o que eu posso fazer, é deixar você fazer sua parte.
A minha eu já aprendi, só falta botar em prática.
Um brinde ao desapego.



Tanny Pontes