terça-feira, 8 de maio de 2012

Gautama Kisser


Você vai ler. Eu sei que vai
Sabia que você andava por aqui mesmo antes dessa coragem súbita te pegar de jeito e te fazer me contar. Sabia que você me olhava aí de longe e queria conversar. Quase podia sentir quando você digitava esse endereço ou clicava nos links que te traziam aqui. E quase podia sentir que estavas tentando escrever um pedido de perdão. Não sei pra quê essa distância... não já basta a literal? Não sei como esse amor e carinho se envenenou assim. 
Não sou bicho de sete cabeças, não. Talvez nem você seja (mas não tenho certeza disso). Nós, na mesma conversa, é que nos tornamos esse bicho.
Mentiras, fugas desnecessárias, fotos (como essa aí tirada nas primeiras horas, lembra?), festas, músicas, risos, textos não escritos e palavras não ditas, frases no face que me prendiam e faltavam gritar: “Essa foi pra você, Tanny”.Foi muita coisa feita... e muita coisa por fazer.
Só quero que saiba que gosto muito de você e que quero seu bem. Por isso também me afastei. Por medo de te machucar e por medo de interferir negativamente na sua vida aparentemente MUITO complicada.
Veja você onde é que o barco foi desaguar...
Cá estamos nós novamente em um blog. Onde tudo começou.
Aleatoriamente parei no seu, aquele dia na aula, por causa de Los Hermanos. Mas não é aleatoriamente que você está vindo aqui hoje, a essa hora da madrugada. Depois dessa loucura toda, tudo passa a ter sentido, motivo, razão e consequência.
Esse não é um post pra te perdoar. Muito menos pra te pedir perdão. Essas coisas não se resolvem assim.
Na verdade, nem sei pra que é esse post, Victor.
Talvez seja um pedido, um apelo pra recomeçar do zero. Pode ser? Sem mentiras e desentendimentos, por favor.

Ou talvez sejam mesmo só palavras aleatórias e esperanças mal construídas de que tudo possa se resolver.




Tanny Pontes

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Pior mentira

Repudio minha incapacidade de explicar isso. De trazer pra um pedaço de papel a complexidade dessa coisa não catalogada que sinto ao escutar sua voz, ou achar que escutei em plena madrugada silenciosa. Essa coisa que sinto por você, e por não ter você. Começo a escrever sobre a violência, mas quando vejo já é de você que escrevo. Começo a escrever sobre saúde, e adivinha?
Não sei mais onde me refugiar, o que fazer, o que fui pegar na geladeira, o que estou fazendo parada com essa toalha na mão no meio do corredor.
Não consigo completar nenhum raciocínio por que você não deixa. Por quê eu não deixo você deixar. E quando há desentendimento meu diagnóstico piora.
Da última vez eu me fiz de pedra, fodona, segurei o choro, escondi a dor e por alguns instantes eternos achei que ia conseguir sufocá-la. Mas vergonhosamente topei no canto do sofá e me desfiz em lágrimas. Por causa da dor no dedo, não é óbvio? Que situação. Lá estava eu, chorando desesperada, olhando pros lados e imaginando a explicação que daria se alguém tivesse visto aquela cena deprimente. 
É ridícula a forma que minto para todas as Tannys que sou. A música já diz: “Mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”. O sentido deve querer dizer que é a pior mentira por que é a mais dolorida, a mais catastrófica.
Eu começo a achar que é por que é a mentira mais incompetente.
A mais mal contada.


Tanny Pontes

Tão Contemporâneo


“Não acredito em homossexualidade ou heterossexualidade. Acho que o que chamamos de civilização, e todos os seus condicionamentos culturais e sociais, nos encaminharam para essa camisa-de-força que é a definição de um papel sexual. Durante muito tempo senti que minha sensibilidade era feminina, mas nunca senti vontade de vestir roupa de mulher. Sempre fui um bissexual atípico, tenho horror a bicha gritando em barzinho de gays. Meus amigos são mulheres ou heterossexuais. Entremeei as relações com homens e mulheres. Mas as histórias com homens foram muito complicadas.
Sou PhD em desilusão amorosa. O homossexual masculino é muito galinha, muito sedutor. Fui muito honesto nas relações, não sei jogar. Odeio quando o amor se transforma em violência, competição, morbidez. Eu sou muito jeca afetivamente. Nunca fui uma pessoa promíscua. Aos 46 anos, estou cansado. Quando os amigos falam do amor e das frustrações, eu me sinto tão distante…Acho que Deus, o grande amor, é a procura do conforto original, o útero materno, a tentativa de voltar para essa situação.
Tive várias namoradas, poderia ter dois filhos, que foram abortados de comum acordo. Tive três namoradas sérias. A Cacaia, Maria Clara Jorge, foi a mais séria, durou três anos e com ela eu teria um filho que, agora, deveria ter uns 25 anos. Foi uma época de muita cocaína, durante um carnaval no Rio. Ficamos trancados no apartamento, cheirando pó loucamente. Ela ficou grávida. Aí pensamos que a criança nasceria deformada, nasceria um monstro. Antes dela, tive uma namorada arquiteta, a Pifa, Helena – qual o sobrenome mesmo? – que virou adepta do guru Rajneesh. A Maria Luisa Bender foi outro grande amor, que conheci na Companhia das Letras.
Gostaria muito de ter tido filhos. Aí penso o que faria se os tivesse. Eu, doente, com Aids, e meus filhos lá com as mães – como ia ser isso na cabeça deles? Recentemente fui ao Rio e vi a Cacaia, com quem poderia ter tido um de meus filhos. Ela agora tem uma filhinha, Emília, com cinco anos. Ela me apresentou para a filha e disse: “Vem ver o amigo da mamãe que está com Aids”. É o mundo de hoje.
Desde a primeira vez que ouvi falar em Aids, quando vi na televisão o anúncio da morte do costureiro Markito, em 1983, percebi que tinha a ver comigo. Na época, a Aids dava exclusivamente em homossexuais e era conhecida como câncer gay. Era ainda uma novidade muito grande. No meu arquivo de memórias, as lembranças da Aids são muito boas. O cantor e compositor Cazuza, tão digno até morrer. O dramaturgo Vicente Pereira, que trabalhou até morrer. O ator Carlos Augusto Strazzer, que tomou Daime (chá alucinógeno tomado pelos adeptos da seita religiosa Saanto Daime) até morrer. Tantos outros que encararam com dignidade a doença.
Meu caso mais sério foi um rapaz de São Paulo. Como é uma pessoa conhecida, não posso dizer o nome dele. Era um bailarino, um ator fantástico. Morou na Suécia, nos Estados Unidos. Eram poucas as informações sobre o uso da camisinha. Ficamos juntos alguns anos. Logo depois de nossa história ele teve uma toxoplasmose. Morreu em 1989. E eu fiquei soropositivo, embora a doença tenha se desencadeado só no final de 1994. A partir da morte dele, não me descuidei mais.
Queria fazer o teste de HIV, mas morria de medo. Se fosse positivo, tinha medo de morrer logo – sou fácil de sugestionar: estes dias, só de ler nos jornais, estava com os sintomas do Ebola. Ao saber do resultado positivo, enlouqueci, queria me jogar pela janela. Meus amigos ficaram muito assustados e me levaram para o hospital Emílio Ribas, em São Paulo.
Com o resultado, fiquei com uma sensação de alívio. Nunca tive vergonha ou neguei. Esta doença é a minha cara. Tem tudo a ver, eu sempre fui tão contemporâneo, sempre estive à frente de tanta coisa. Não podia mesmo morrer de outro jeito. Cosmicamente está certo. Em nenhum momento fiquei me culpando ou perguntando a Deus ‘Por que comigo, ó Senhor? Que desgraça!’.”
 A Aids é a minha cara: Anos Rebeldes (Depoimento a Fátima Torri - Revista Marie Clarie - Set 1995)




Caio F. Abreu
Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.


Caio F. Abreu
Que coisa maluca a distancia, a memória. Como um filtro, um filtro seletivo, vão ficando apenas as coisas e as pessoas que realmente contam.
 
 
 
Caio F. Abreu

É uma coisa que me dói muito, esses seus silêncios.


Caio F. Abreu

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Inevitar

O som daquela voz tinha textura. Aquele beijo tinha cor. Aquele cheiro tinha sabor.
E só o que restou foi meu corpo solitário e minha mente vagando nesse apartamento que era tão nosso, mas agora é tanta solidão estampada em cada móvel, em cada sombra, em cada canto.
Saiu da minha vida assim, descalça, delicada pra não me acordar desse sonho. Mas uma hora eu tinha que levantar da cama e perceber a sua ausência.
Meu bem, adiar o inevitável é inevitar a dor.
Suas pegadas estão por toda parte.

Vou embora da nossa ex-morada, da nossa ex-história, desses rostos que perguntarão por você amanhã e depois e depois e eu não conseguirei responder por que aquele conhecido nó não vai deixar de forma alguma. 
Vou embora dessa cidade. Desse país, quem sabe.
Vou embora dessa dor.
Como se não soubesse que ela vai sempre encontrar um canto na mala.






Tanny Pontes


Contrastes

Caminhava pela Av. Frei Serafim voltando de mais um dia de aula. Trânsito caótico e barulhento seria eufemismo pra aquilo que acontecia dos dois lados do canteiro. Se incomodava? Não...Não mesmo. Gosto de contrastes. E o que seria aquela barulheira e stress todo que acontecia fora de mim, se não um contraste com o que ocorria aqui dentro?
Estranhamente, no meio daquele calor infernal às vezes uma brisa aconchegante resolve dar o ar de sua graça, literalmente, e trazer uma calma que quase não cabe naquele cenário em pleno rush. Ficou tudo tão calmo, tão simples, tão leve. Dentro e fora. Fora tem a leveza de uma brisa inesperada que faz suspirar e dentro tem muitos sentimentos confusos, mas nenhum pesado. Tem amor, tem felicidade, tem apreensão, tem desejo. Não tem mais o medo, o receio, a vontade de desistir. Foram embora com algumas lágrimas evitáveis e levaram todo o peso que era inquilino certo há tanto tempo.
Me perdi em pensamentos e quase fui levada por uma bicicleta. Depois outra. Depois outra. Será que esse amor vai passar tão rápido quanto as três bicicletas apressadas? Será que seu sorriso é como o daquela menina  comendo picolé em frente a banca de revista do outro lado? Será que seu abraço é como o daquele casal sentado no banco desbotado pelo sol? 
E será que esse vento que beija meu rosto já acariciou sua pele algum dia? Certamente não. Se isso tivesse acontecido ele não estaria tão loge de você agora. Não conseguiria. Acho que ninguém consegue. Apesar de nunca tê-la tocado, se o tivesse feito, não mais ousaria me distanciar tanto.
Tantas pessoas passam por mim indo e vindo e nem reparam na beleza da avenida mais linda dessa cidade. Quantas árvores, quantas conversas em cada grupinho reunido por toda a extensão do canteiro... quantas pessoas apaixonadas devem percorrer esse mesmo caminho todos os dias.
E eu aqui, achando erroneamente que sou a única que ama, a única que repara, a única que sente.
Mas certamente sou a única que trocaria a eternidade por 5 minutos com você.




Tanny Pontes