domingo, 11 de dezembro de 2011

Papai Noel


Não, eu não acredito em Deus, nem em Papai Noel, nem na bondade dos homens, mas quero resgatar hoje um pouco daquela ansiedade pré-natal em que escrevia todos os anos uma cartinha cheia de desenhos e pinturas mal feitas para um certo velhinho de barba. Entregava ao meu pai, e nunca descobri onde ele colocava as benditas cartas. Será que ele lê blogs? Não custa tentar.

Querido Papai Noel, este ano que quero pedir que as minhas amizades sejam sempre guardadas sem falhas na memória. Que mesmo velhinha assim como você eu possa lembrar com perfeição momentos e diálogos que tive com aqueles que tanto me ajudaram a construir minha própria imagem. Eu quero uma memória super reforçada. Será que rola?
Sabe Papai Noel, eu nunca entendi por que as memórias se vão. Ora, as pessoas já se vão, os sentimentos se vão, nada mais justo que as lembranças ficarem. Sei que de fato algumas ficam, mesmo que eu nunca tenha entendido o motivo de lembrar de uma cena de 10 anos atrás, e não lembrar o que comi no almoço de ontem, mas é que a possibilidade de esquecer alguns rostos e abraços ou mesmo essas pequenas amizades de verão, me deixa totalmente aflita. Me sinto impotente diante da ideia distante de não poder salvar em alguma memória externa em forma de video ou fotos todas as coisas gostosas que já vivi ao lado dos meus amigos.
A-M-I-G-O-S!
Algumas pessoas nuca vão entender o significado dessa palavra. Ainda bem que não é nem de longe o meu caso. Será por que eu tenho tantos amigos e eles são os melhores do mundo? Eu fico em dúvida se é porque uma das minhas cartas de criança te pedia os melhores amigos do mundo, ou se foi por que fiz o mesmo pedido quando minha vó me deu uma daquelas fitinhas que ela trás de Juazeiro, que a gente amarra no braço e elas ficam lá, sofrendo a ação do tempo e cumprindo sua sina até se deteriorarem por completo. Bem que minha mãe diz que quando estamos doentes é bom tomar só um remédio por vez, do contrário não saberemos qual fez efeito.
Papai Noel, essa carta está virando um longo texto, mas acho que você tem tempo pra ler, e se não tiver, fica como se fosse um desconto, por todos esses anos que não escrevi. Tenho pontos acumulados, certo?
Enfim, meu pedido esse ano é basicamente esse. Uma super memória. Eu poderia pedir ter todos os meus amigos pra sempre comigo, parece mais simples, eu sei. Mas aí seria egoísmo. Cada um vai pro seu lado, seguir sua vida, ter filhos, virar padre, professor, prostituta... E eu não sou tão importante a ponto de comprometer esses futuros apenas pra me manter rodeada desses amores puros. Então, eu quero apenas que quando nossas vidas se cruzarem, todos os momentos sejam eternizados. Os bons e os ruins, as emoções e até mesmo as tardes tediosas em que um faz companhia em silêncio pra o outro. Os choros de tristeza, em que um é o alicerce do outro, e os choros de alegria, em que as lágrimas de dois ou mais se misturam.As músicas que embalam reflexões em grupo, e as músicas toscas que fazem todos dançar bêbados de felicidade, ou bêbados de bêbados mesmo. Guarde minha lembranças pra sempre em algum canto de mim, por favor, por favor, por favor. Não deixe que o tempo e os cabelos brancos as levem.
Sei que o momento é de comemorar o nascimento de um pivete qualquer que entrou pra história do mundo aí, e não de falar em morte. Mas na hora da minha morte, Papai Noel, eu quero ver o rosto de cada um, e sentir o cheiro guardado na memória, pra ter a morte mais feliz e satisfeita de todos os tempos.
Entendeu né Papai Noel? Espero que você não esteja caducando, porque esse meu pedido é muito especial pra ser incompreendido.

Beijos pra você, bom velhinho.
Tanny Pontes

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